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Diante dos olhos está um copo
até meio encontra-se preenchido com um líquido verde. Encontro-me a seguir a experiência descrita no ponto 80, do livro Teoria das Cores de Johnnan Goethe:
“Take a piece of green glass of some thickness and hold it so that the window bars be reflected in it (…) The experiment may be very satisfactorily made by pouring water into a vessel, the inner surface of which can act as a mirror; for both reflections may first be seen colourless while the water is pure, and then by tinging it, they will exhibit two opposite hues.” (1840:37)
Como não encontrei o tal pedaço de vidro verde sugerido no livro, contentei-me pela alternativa seguinte, o copo com água tingida de verde. Segui a descrição com o intuito de replicar a experiência e assim observar o efeito das sombras coloridas. Coloquei o copo sobre a mesa e fi-lo girar à luz do sol que entrava pela janela. Vi o reflexo do líquido verde na superfície branca da mesa, na parede branca também, mas não me apareceu qualquer outra cor (a experiência original referenciava o aparecimento da cor vermelha como contraste simultâneo).
Tentei novamente, desta vez com um candeeiro de luz branca a fazer a vez do sol. O vermelho não apareceu! Queria ver, mas não vi!
Estou diante deste copo na esperança de encontrar nas experiências de Goethe matéria para a minha pesquisa artística. A minha proposta foi a de replicar algumas das experiências referenciadas em Teoria das Cores e fazer delas um trampolim para a criação de imagens.
Repliquei a tarefa de Goethe, não apenas por colocar em prática as suas experiências, mas por repetir o seu gesto, por sua vez, em relação às experiências realizadas por Newton, em Opticks. Tal como me acontecia agora, em que “corria para alcançar” Goethe, também o poeta teve o intuito em “alcançar” Newton, obtendo resultados diferentes no refazer das experiências. E aqui começa a dramaturgia desta peça artística: três investigadores, dois deles artistas, em três tempos diferentes, na sua investigação sobre o comportamento da luz, não viram as mesmas coisas.
Quarto Escuro de Goethe ensaia uma dramaturgia da luz partindo do método morfológico de Goethe para o estudo de fenómenos da natureza, colocando em prática algumas das experiências descritas em Teoria das Cores. Goethe propõe que a manifestação da cor se encontra no limite entre luz e sombra e que a sua revelação dependerá da experiência e da intuição. Na criação desta peça interessa-me sobretudo perceber o que acontece às formas dos objetos perante o excesso ou a ausência de luz e que condições são necessárias, além de se ver um determinado objeto, para que este se revele ao olhar. A peça explora a fronteira entre o visível e o invisível, em que a luz é o elemento de tensão entre os dois estados.
Interessa-me explorar, na minha prática artística, o fenómeno físico e biológico da luz na apreensão visual, particularmente na perceção das cores, bem como o conceito filosófico de luz, ora ligado à lucidez de ideias ora aparecendo como descrição de experiências espirituais, em Teoria das Cores.
A peça será apresentada no formato de performance-instalação; acontece num espaço especialmente desenhado para se explorar o jogo luz / sombra. Neste espaço, um grupo de performers, atuando como corpo coletivo, auxilia o participante (público) na travessia deste espaço. Durante a travessia, vai-se revelando uma narrativa que, em vez de palavras, se materializa através de sons e imagens criadas por mim, Eunice Gonçalves Duarte, e pelo programador sonoro Nick Rothwell.
A performance-instalação estrea no TAGV – Teatro Académico de Coimbra de 22 de outubro
Ficha Técnica
Criação: Eunice Gonçalves Duarte
Composição sonora: Nick Rothwell
Produção: Sofia Lobo
Performers: Pedro Lamas, Beatriz Boleto e Gonçalo Cardoso da Silva
Direção técnica: Mafalda Oliveira
Figurinos: Justine Latour
Comunicação: Isabel Campante
Consultoras científicas: Benilde Costa (física) e Marta Teixeira (Neuropsicologia)
Investigadores convidados: Vitor Cardoso (físico) e Maria Filomena Molder (Filosofa)
Co-produção:TAGV – Teatro Académico Gil Vicente
Apoios: Instituto Goethe Lisboa, Rómulo – Centro de Ciência da Universidade de Coimbra, Marionet, Atelier Concorde, Junta de Freguesia de São Vicente, Ponto C
Parcerias comunicação: Antena 2, CoffeePaste e ArteCapital